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A Importância do Bem-Estar Mental na escola: Uma Perspectiva Neurocientífica

Atualizado: 13 de jun. de 2023


Menino escrevendo a lápis em caderno apoiado e mesa de madeira contendo um porta-lápis  cheio de lápis.

No ambiente escolar, o bem-estar mental de professores e alunos desempenha um papel fundamental no processo de ensino-aprendizagem. É cada vez mais evidente que o estado emocional e mental dos envolvidos na educação afeta diretamente o desempenho acadêmico, o engajamento e o desenvolvimento pessoal. Neste artigo, exploraremos a importância do bem-estar mental na escola, embasado em dados científicos de neurociência.


Impacto do Estresse na Aprendizagem: O estresse crônico pode afetar negativamente o funcionamento cerebral, prejudicando a capacidade de concentração, memória e tomada de decisões. Estudos neurocientíficos mostram que altos níveis de estresse podem levar a alterações na estrutura e função do cérebro, dificultando a absorção e retenção de informações. Portanto, é essencial criar um ambiente escolar que promova o bem-estar mental, reduzindo o estresse e favorecendo a aprendizagem.


O estresse crônico tem sido amplamente estudado pelos neurocientistas devido ao seu impacto negativo no cérebro e na capacidade de aprendizagem. Quando estamos expostos a situações estressantes, nosso corpo ativa a resposta de "luta ou fuga", desencadeando a liberação de hormônios do estresse, como o cortisol, no organismo. A exposição prolongada a altos níveis de cortisol tem efeitos prejudiciais no cérebro, afetando diversas áreas e processos cognitivos.

Uma das regiões cerebrais mais afetadas pelo estresse crônico é o hipocampo, uma estrutura essencial para a formação e consolidação da memória. Estudos têm mostrado que altos níveis de cortisol podem levar a alterações no hipocampo, reduzindo sua capacidade de criar e recuperar memórias de forma eficiente. Isso interfere diretamente na capacidade dos alunos de absorver e reter informações, prejudicando a aprendizagem.

Sala de aula contendo crianças sem foco ao fundo e foco em menina loira usando maria-chiquinhas no cabelo, com prendedor branco e com as mãos na boca, distraída.

Além disso, o estresse crônico também pode afetar negativamente outras áreas cerebrais importantes para a aprendizagem, como o córtex pré-frontal. Essa região está envolvida em processos como a atenção, o controle executivo e a tomada de decisões. Quando expostos ao estresse crônico, o córtex pré-frontal pode apresentar dificuldades em desempenhar suas funções adequadamente, resultando em problemas de concentração, falta de clareza mental e dificuldades na resolução de problemas.



Outra consequência do estresse crônico é a diminuição da plasticidade cerebral. A plasticidade é a capacidade do cérebro de se adaptar e remodelar suas conexões neurais com base nas experiências e aprendizagens. O estresse crônico pode reduzir a plasticidade cerebral, dificultando a formação de novas sinapses e a criação de circuitos neuronais necessários para a aprendizagem eficaz.


Estudos também mostram que o estresse crônico pode levar a uma maior atividade do sistema límbico, que inclui estruturas como a amígdala, relacionada às emoções e à resposta ao estresse. Esse desequilíbrio no sistema límbico pode levar a um estado de maior ansiedade e afetar negativamente a regulação emocional, tornando mais desafiador para os alunos se concentrarem, absorverem informações e se engajarem nas atividades escolares.


Pesquisas, como os de Lupien et al. (2009) e McEwen (2012), destacam que o estresse crônico pode prejudicar a capacidade de concentração, memória e tomada de decisões. Esses estudos evidenciam que altos níveis de estresse podem levar a alterações na estrutura e função do cérebro, interferindo na absorção e retenção de informações.


Em resumo, o estresse crônico afeta a aprendizagem por meio de alterações no hipocampo, no córtex pré-frontal, na plasticidade cerebral e na regulação emocional. Compreender esses efeitos neurobiológicos do estresse é crucial para promover um ambiente escolar saudável e oferecer estratégias de gerenciamento do estresse aos alunos, auxiliando-os no desenvolvimento de habilidades cognitivas e emocionais necessárias para uma aprendizagem eficaz.



Crianças interessadas na escola ao redor de algumas plantas realizando atividade educativa orientados pela professora. Duas crianças negras e  três crianças brancas.


Relação entre Bem-Estar Mental e Engajamento: Quando professores e alunos se sentem emocionalmente equilibrados, há uma maior propensão ao engajamento nas atividades escolares. Pesquisas mostram que a ativação de áreas cerebrais associadas ao prazer e motivação está intimamente ligada ao bem-estar mental. Alunos engajados têm maior probabilidade de participar ativamente das aulas, buscar conhecimento de forma autônoma e alcançar melhores resultados acadêmicos.


Davidson e McEwen (2012) ressaltam que o bem-estar mental está relacionado ao engajamento nas atividades escolares. Estudos mostram que quando áreas cerebrais associadas ao prazer e motivação são ativadas, há maior propensão ao engajamento. Esse engajamento favorece a participação ativa nas aulas, a busca autônoma pelo conhecimento e melhora os resultados acadêmicos.




Atenção Plena e Regulação Emocional: Práticas de atenção plena e regulação emocional têm ganhado destaque nas escolas como estratégias eficazes para promover o bem-estar mental. Estudos neurocientíficos demonstram que a prática regular de mindfulness pode levar a mudanças positivas na estrutura cerebral, fortalecendo áreas relacionadas ao controle emocional e tomada de decisões. Ao fornecer aos alunos ferramentas para gerenciar emoções e lidar com o estresse, estamos capacitando-os a enfrentar desafios acadêmicos e pessoais de forma mais resiliente.


Hölzel et al. (2011) demonstraram que a prática regular de mindfulness resulta em mudanças positivas na estrutura cerebral, fortalecendo áreas relacionadas ao controle emocional e tomada de decisões. Ao oferecer aos alunos ferramentas para gerenciar emoções e lidar com o estresse, estamos capacitando-os a enfrentar desafios acadêmicos e pessoais com maior resiliência.



A Importância do Apoio Social: A neurociência mostra que conexões sociais positivas são fundamentais para o bem-estar mental. Tanto professores quanto alunos se beneficiam de relacionamentos saudáveis e apoio social dentro do ambiente escolar. O sentimento de pertencimento e suporte emocional contribui para a redução do estresse, o aumento da motivação e a promoção do bem-estar geral.


Estudos, como os de Eisenberger e Cole (2012) e Masten et al. (2009), suportam a ideia de que o apoio social é essencial para o bem-estar mental. Relacionamentos saudáveis e apoio emocional dentro do ambiente escolar contribuem para a redução do estresse, o aumento da motivação e o bem-estar geral. Estabelecer conexões sociais positivas entre professores e alunos promove um ambiente favorável ao aprendizado e ao desenvolvimento emocional.


DICAS PARA LIDAR COM O ESTRESSE E ANSIEDADE NO CONTEXTO ESCOLAR



Crianças alongando na escola, a criança em foco está alongando e sorrindo.

PARA ALUNOS:

  1. Pratique a respiração consciente: Faça pausas ao longo do dia para concentrar-se na sua respiração. Inspire profundamente pelo nariz, segure por alguns segundos e expire lentamente pela boca. Isso ajuda a acalmar a mente e reduzir a ansiedade.

  2. Estabeleça uma rotina saudável: Mantenha uma rotina regular de sono, alimentação balanceada e exercícios físicos. Cuidar do seu corpo contribui para o equilíbrio mental e emocional.

  3. Organize-se e planeje suas tarefas: Utilize uma agenda ou aplicativos de organização para planejar suas atividades e prazos. A organização ajuda a reduzir a sensação de sobrecarga e melhora a produtividade.

  4. Peça ajuda e compartilhe com alguém: Se estiver sentindo dificuldades, não hesite em pedir ajuda a um professor, orientador ou alguém de confiança. Compartilhar suas preocupações pode aliviar o estresse e proporcionar apoio emocional.


PARA PROFESSORES:

Professora negra dando aula para uma turma de alunos que aparecem de costas.

Pratique o autocuidado: Reserve um tempo para cuidar de si mesmo. Pratique exercícios físicos, meditação, hobbies ou qualquer atividade que lhe traga prazer e relaxamento.

  1. Estabeleça limites e prioridades: Defina limites claros para o seu tempo e energia. Identifique as tarefas prioritárias e aprenda a delegar quando possível. Isso ajudará a evitar o acúmulo excessivo de trabalho e reduzir o estresse.

  2. Promova momentos de relaxamento em sala de aula: Integre práticas breves de relaxamento, como exercícios de respiração ou momentos de pausa, durante as aulas. Isso pode ajudar a acalmar os alunos e também beneficiar o seu próprio bem-estar.

  3. Estabeleça uma rede de apoio: Procure se conectar com outros professores, participando de grupos de discussão ou compartilhando experiências. Compartilhar desafios e soluções com colegas pode trazer um senso de apoio e colaboração.


Investir no bem-estar mental de professores e alunos é essencial para promover um ambiente escolar saudável e propício à aprendizagem. Com base em dados científicos de neurociência, fica claro que o estresse crônico e a falta de apoio emocional podem prejudicar o desempenho acadêmico e o desenvolvimento pessoal.


Quais práticas e ou programas de bem-estar mental sua escola adota em prol de alunos e professores?



Alguns artigos para você se aprofundar (em inglês):


Impacto do Estresse na Aprendizagem:

Lupien, S. J., McEwen, B. S., Gunnar, M. R., & Heim, C. (2009). Effects of stress throughout the lifespan on the brain, behaviour and cognition. Nature Reviews Neuroscience, 10(6), 434-445.

McEwen, B. S. (2012). Brain on stress: How the social environment gets under the skin. Proceedings of the National Academy of Sciences, 109(Supplement 2), 17180-17185.


Relação entre Bem-Estar Mental e Engajamento:

Davidson, R. J., & McEwen, B. S. (2012). Social influences on neuroplasticity: Stress and interventions to promote well-being. Nature Neuroscience, 15(5), 689-695.

Hölzel, B. K., Carmody, J., Vangel, M., Congleton, C., Yerramsetti, S. M., Gard, T., & Lazar, S. W. (2011). Mindfulness practice leads to increases in regional brain gray matter density. Psychiatry Research: Neuroimaging, 191(1), 36-43.



Atenção Plena e Regulação Emocional:

Tang, Y. Y., Hölzel, B. K., & Posner, M. I. (2015). The neuroscience of mindfulness meditation. Nature Reviews Neuroscience, 16(4), 213-225.

Hölzel, B. K., Lazar, S. W., Gard, T., Schuman-Olivier, Z., Vago, D. R., & Ott, U. (2011). How Does Mindfulness Meditation Work? Proposing Mechanisms of Action From a Conceptual and Neural Perspective. Perspectives on Psychological Science, 6(6), 537-559.



A Importância do Apoio Social

Eisenberger, N. I., & Cole, S. W. (2012). Social neuroscience and health: Neurophysiological mechanisms linking social ties with physical health. Nature Neuroscience, 15(5), 669-674.

Masten, C. L., Eisenberger, N. I., Borofsky, L. A., Pfeifer, J. H., McNealy, K., Mazziotta, J. C., & Dapretto, M. (2009). Neural correlates of social exclusion during adolescence: Understanding the distress of peer rejection. Social Cognitive and Affective Neuroscience, 4(2), 143-157.



2 comentários

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patriciaparanhos2003
13 de jun. de 2023

Que maravilha de post! Esclarecedor e didático! Obrigada por compartilhar um conhecimento tão importante!

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Dra. Virgínia Chaves
Dra. Virgínia Chaves
14 de jun. de 2023
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Obrigada, Pati! É um assunto de extrema importância, e na minha opinião, vem antes da excelência acadêmica, pois esta não pode ser alcançada facilmente sem bem-estar mental.

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