Quarentena: a escola não deve ser mais uma fonte de estresse
- Dra. Virgínia Chaves

- 30 de mar. de 2020
- 3 min de leitura

Hoje de tarde meu filho acordou da soneca choroso. Suas primeiras palavras foram: “estou com saudades dos meus amiguinhos da creche”. Meu filho tem 3 anos. Ele já sabe sobre o Corona vírus e fica assustado quando o pai sai de casa para ir ao mercado. Ele não vê os avós maternos há algum tempo e sabe que a piscina do prédio está fechada. Ele passa álcool em gel nas mãozinhas e vai brincar.
Isso porque ele não entende bem o que realmente está acontecendo.
Meus alunos adolescentes entendem o que está havendo. É possível que estejam preocupados. Não bastassem os desafios diários de ser adolescente nesse mundo complexo e exigente, agora lidam com uma pandemia. São arrebatados por dados a todo instante. São números expressivos de pessoas morrendo ao redor do mundo. Pessoas morrendo no Brasil. Sensação de que o cerco está fechando.

Além disso, estão vivendo uma realidade familiar muito diferente. Seus pais (a maioria dos pais) estão em casa. Todos estão em casa. Convivendo. Mas não são férias. Ninguém está feliz.
O que estamos vivendo é algo novo. Quem aí já precisou trabalhar de casa enquanto ensina e entretém os filhos por causa de uma pandemia?
Do ponto de vista da educação, o momento é de inovação para uns, renovação para outros. Enxurrada de ferramentas e atividades sendo preparadas em tempo recorde a fim de que os alunos possam continuar suas jornadas de aprendizagem. Perfeito. Esse é o papel da escola. Um dos papeis.
A questão é que o momento que vivemos não é exatamente o mais propício para picos de aprendizagem.
As famílias estão assustadas, e seus filhos, idem. Os pais estão preocupados em manter seus empregos. Estão preocupados se a renda da família será suficiente para manter as contas pagas, após a crise. Ao mesmo tempo em que uns trabalham de casa em ambiente que não foi adaptado para tal, outros, estão sem trabalho, amargando a quarentena.
A família, se preocupa com os idosos, que são grupo de risco. São os avós, tias, tios, bisavós e bisavôs. Crianças, jovens e adultos estão saudosos de seus parentes, amigos e pessoas queridas. Isso para ser bem positiva, sem comentar os dados sobre violência doméstica. Aumentaram, desde que o isolamento social começou.
Ainda há o confinamento. Que gera estresse. Talvez seja complexo achar um local calmo para estudar em casa. Talvez o local calmo esteja ocupado pelos próprios pais em home office. O caos aumenta se há crianças pequenas em casa.
Nesse cenário, surgem as diversas demandas das escolas: cronogramas, horários, tarefas e funções com datas de entrega e avaliações. Educadores e família estão receosos de que seus alunos não estejam recebendo a educação a que têm direito. Preocupação legítima. A escola precisa oferecer todas as ferramentas possíveis nesse momento.
Entretanto, acredito que, tais ferramentas devam vir acompanhadas de muita compreensão por parte de professores e educadores. Talvez, os alunos não consigam assistir a todos os vídeos, fazer todos os exercícios ou ler todos os capítulos. Talvez não haja um computador para cada pessoa dentro da casa. Talvez o aluno tenha que dividir com os pais e os irmãos, então vai passar o prazo de entregar da atividade e tudo bem.

Nesse momento o que as escolas podem fazer para ajudar no processo é enviar orientações às crianças e adolescentes sobre como lidar com a situação. Para que não guardem suas angústias, para que partilhem suas ansiedades tanto quanto lavam as mãos. Para que denunciem caso haja abuso.
Enfim, a escola não pode e não deve ser mais uma fonte de estresse e angústia nesse momento. A aprendizagem não se dá bem com estresse. Que os alunos, possam, ao contrário, descobrir sem pressão como funcionam estudando sozinhos orientados à distância. Que o momento gere experiências pedagógicas positivas e não o contrário. Que as escolas continuem inovando, reinventando, criando e enviando atividades, mas que a saúde emocional de nossos adolescentes esteja acima de tudo.





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