top of page

Infoxicação na educação: quem vai analisar todos os dados?

Atualizado: 15 de fev. de 2021


ree

A primeira vez que ouvi o termo “infoxicação” achei interessante, apesar de claustrofóbico. Mistura de informação com intoxicação, o termo cunhado pelo físico e empresário espanhol Alfons Cornella, expressa bem o que vivenciamos nos dias atuais. Toneladas de informação sendo despejadas em nossos cérebros e por que não, corpos, a cada segundo.

Possuímos as ferramentas para gerenciar essa grande quantidade de informações? Possuímos, porém não ocorre com eficácia. Isso porque frente a tantos inputs, nossos cérebros precisam definir o que é ou não relevante a fim de concentrar-se em tarefa específica. E como saber o que é ou não relevante sem analisar cada informação?


É aí que nos distraímos. Deixamos tarefas inacabadas e começamos outras que também não são finalizadas. É exatamente quando fazemos levantamento bibliográfico para escrever um texto e levamos mais tempo caçando informação do que consumindo de forma eficaz e aplicável. A cada 2 dias geramos um volume de dados equivalente ao que criamos do início da civilização humana até 2013, segundo Eric Schmidt, ex-CEO da Google.


É daí também que vem a necessidade criada de produtividade extrema e consumo de informação a todo instante. Leia livros. Todos que puder. Ouça podcasts a qualquer momento em que perceba estar fazendo nada. No século XXI fazer nada é pecado. Tenha dispositivos para ler livros digitais enquanto espera por qualquer serviço que demore mais que 5 minutos. Escreva textos e responda e-mails de onde estiver para “ganhar tempo”. Que tempo?


ree

No contexto educacional, como em qualquer outro, vivenciamos o tsunami de dados. Nenhum problema. Criamos soluções tecnológicas justamente para gerar dados que possam ser analisados e gerar insights para resolução de problemas.


A questão é que, quando se trata de sala de aula, há um fator humano muito forte que sustenta a necessidade de personalização de soluções. Cada aluno é um universo diferente no que diz respeito à aprendizagem. Como personalizar o processo quando o professor é um e os alunos são vários? A resposta é tecnologia!


Entretanto, ainda que a tecnologia permita gerar dados em maior quantidade e de forma cada vez mais rápida, a análise de tais dados e as estratégias a partir deles ainda são fruto da criatividade e ação humanas. Feito por humanos para humanos.


Logo, independentemente de existirem a cada dia mais programas, aplicativos e plataformas que gerem dados sobre alunos, o professor continua único. E como tal, precisa de tempo para analisar os dados de seus alunos e traçar planos individuais de média ou longa duração.


As plataformas de ensino personalizado entregam até certo ponto trilhas e possibilidades distintas de exercícios e conteúdos. Entretanto, se o professor não consegue analisar tudo, as estratégias pedagógicas de rotina não sofrerão a importante influência dos dados gerados por algoritmos.


O professor como mediador precisa estar a par de sua turma, de seus alunos e de suas necessidades.


ree

Com isso, cada vez mais cria-se a necessidade de turmas reduzidas ou de estratégias que permitam ao professor lidar com todos os dados de forma eficaz. Se antes o motivo era o fato de que as aulas expositivas acabavam direcionadas a apenas uma parcela da turma, agora o motivo é que em turmas grandes demais o professor não consegue analisar todos os dados e alterar e reconduzir suas estratégias.


Haverá o momento em que apenas plataformas guiarão aulas e processos de aprendizagem? Talvez. Até lá, temos seres humanos mediando os processos e da mesma forma, temos cérebros humanos aprendendo. Cérebros que ainda não tiveram tempo suficiente para adaptarem-se à tecnologia.


São diversas as possibilidades de geração de dados no ambiente educacional. Dados únicos, cruzados, métricas e avaliações de desempenho cognitivo e socioemocional.


O que fazer com todas as informações? É o desafio do momento. Como gerenciar a imensa quantidade de dados gerados a cada minuto no mundo em que vivemos? Tentamos orientar alunos sobre como estudar em meio ao mar de informações de mecanismos de busca, mas nós professores não sabemos por onde começar a analisar os dados provenientes de todas as plataformas e aplicativos usados simultaneamente.


ree

Professores regendo incontáveis turmas semanais acumulando 12 tempos diários ou mais. Não há tempo para formação continuada. A mesma aparece camuflada em horas de conteúdo expositivo sem repercussão direta na prática de sala.


Não há tempo para troca, conversa, criação ou pensamento que vá ao encontro de uma análise para criação de planos mais eficazes, pedagogicamente.


Por fim, e não menos importante, os aspectos sociais e emocionais da experiência de aprendizagem dependem da interação entre aluno e professor e entre pares. Interação essa que irá permear as incontáveis horas de construção e ou transmissão de conhecimento. Tais dados podem não ser aparentes, mas sem dúvida os componentes humano e social do processo interferem nos resultados.


Enfim, a intenção aqui não é a crítica da tecnologia educacional, pelo contrário. A intenção é de que criemos ferramentas que possam ser utilizadas por seres humanos. No alto de suas limitações. A intenção é a de que as ferramentas sejam utilizadas da forma mais consciente possível. E entenda como consciência o estado oposto ao de automação. Que menos dados sejam analisados por minuto na escola, mas que tenham relevância e gerem ação e mudança nas práticas pedagógicas.

Comentários

Avaliado com 0 de 5 estrelas.
Ainda sem avaliações

Adicione uma avaliação
bottom of page