Motivação ou hábito? como direcionar o equilíbrio em sala de aula
- Dra. Virgínia Chaves

- 15 de ago. de 2023
- 5 min de leitura

Na jornada educacional, dois elementos cruciais desempenham um papel fundamental no alcance do sucesso: motivação e hábitos. Embora ambos tenham um impacto significativo no processo de aprendizagem, eles operam de maneiras distintas e desempenham papéis complementares na busca pelo conhecimento e crescimento pessoal. Neste artigo, exploraremos as diferenças entre motivação e hábitos em relação à educação, fornecendo insights sobre como equilibrar esses dois aspectos para obter os melhores resultados.
Motivação: a ignição cerebral
A motivação age como um impulso emocional que nos leva a iniciar a jornada de aprendizado. A motivação pode ser intrínseca (vinda de dentro, como um desejo pessoal de aprender) ou extrínseca (vinda de fontes externas, como recompensas ou pressões sociais). A força da motivação pode variar, influenciada por interesses pessoais, objetivos de carreira, curiosidade e até mesmo desafios a serem superados.
A motivação, muitas vezes impulsionada por recompensas e objetivos, está profundamente enraizada em nosso sistema de recompensa cerebral. O neurotransmissor dopamina desempenha um papel central nesse processo. Quando nos sentimos motivados, nossos níveis de dopamina aumentam, gerando uma sensação de prazer e satisfação. Essa resposta do cérebro cria uma ligação emocional positiva com a atividade que estamos realizando, tornando-a mais atraente e aumentando a probabilidade de persistência.
No contexto educacional, entender esse processo é crucial. Ao estabelecer metas claras e recompensas tangíveis, os educadores podem acionar a liberação de dopamina nos alunos, aumentando sua motivação intrínseca para aprender. No entanto, é importante lembrar que a dopamina também é liberada em antecipação à recompensa, não apenas quando a recompensa é alcançada. Portanto, educadores podem usar estratégias como quebra de tarefas em etapas menores para proporcionar doses regulares de motivação ao longo do processo de aprendizagem.

No entanto, a motivação é frequentemente volátil. Ela pode flutuar com base em fatores externos, emoções momentâneas ou mesmo desafios imprevistos.
Confiar exclusivamente na motivação para sustentar a jornada educacional dos alunos pode ser arriscado, e inclusive, levar à inconsistência e burnout.
Pesquisas sobre motivação em estudantes apontam que a performance varia para melhor quando os fatores motivacionais para o estudo são intrínsecos, ou seja, independem de recompensas externas. Logo, professor, não se culpe se seus alunos não estão motivados a estudar, pois vez ou outra, o motivo pode estar absolutamente fora do seu alcance, mesmo você sendo inspirador e competente.
Hábitos: esculpidos pelo cérebro
É aqui que os hábitos entram em cena. Enquanto a motivação fornece o impulso inicial, os hábitos estabelecem a base sólida para um aprendizado consistente e progressivo.
Hábitos são comportamentos que se tornam automáticos por meio de repetição e prática contínua. Uma vez que um hábito é formado, ele não requer o mesmo nível de motivação para ser executado.
Imagine um estudante que deseja aprender um novo idioma. No início, a motivação o leva a estudar diariamente. Mas, à medida que o entusiasmo inicial diminui, são os hábitos de estudo diários que garantem que ele continue progredindo, mesmo nos dias em que a motivação está em baixa.
A formação de hábitos tem uma base neurobiológica intrigante. O circuito neural dos hábitos envolve a região basal dos gânglios, onde as ações repetitivas se tornam automáticas e requerem menos esforço consciente ao longo do tempo. Esse processo é impulsionado pelo estabelecimento de conexões sinápticas mais fortes entre os neurônios, tornando a execução de comportamentos habituais quase automática.
Na educação, isso se traduz em uma oportunidade para transformar atividades de aprendizado em hábitos saudáveis. Ao repetir consistentemente certos comportamentos de estudo ou prática, essas ações se enraízam no sistema neural dos alunos, tornando-as parte de sua rotina diária sem a necessidade de motivação constante.
Encontrando o equilíbrio ideal

A abordagem neurocientífica nos ensina que a motivação e os hábitos estão interligados no cérebro. A dopamina liberada por atividades motivadoras pode, ao longo do tempo, contribuir para a formação de hábitos, uma vez que a associação entre a atividade e o prazer é fortalecida. Isso sugere que uma abordagem eficaz para a educação envolve a combinação estratégica de estímulos motivacionais e práticas de construção de hábitos.
Ao estabelecer metas envolventes e recompensas tangíveis, os educadores podem cultivar a motivação intrínseca dos alunos. E ao incorporar rotinas regulares de estudo e prática, os educadores podem usar a neuroplasticidade para moldar os cérebros dos alunos, transformando atividades educacionais em hábitos duradouros.
A chave para um aprendizado eficaz reside em encontrar o equilíbrio ideal entre motivação e hábitos. Compreender a interseção entre motivação e hábitos, bem como os insights da neurociência, permite que você adote uma abordagem eficaz para maximizar o sucesso acadêmico de seus alunos. Aqui estão algumas dicas práticas sobre como abordar esses aspectos em sala de aula:
1. Crie Metas Claras e Inspiradoras: Ajude seus alunos a definir metas educacionais tangíveis e inspiradoras. Explique como essas metas podem abrir portas para oportunidades futuras. Use histórias de sucesso ou exemplos relevantes para demonstrar como o esforço presente se traduz em realizações futuras.
2. Alimente a Curiosidade: A curiosidade é um grande impulsionador da motivação. Explore tópicos interessantes e instigue a curiosidade natural dos alunos. Incentive perguntas e debates em sala de aula, transformando a busca por respostas em um processo empolgante.
3. Faça Uso da Variedade: A rotina pode levar à monotonia, o que pode afetar negativamente a motivação. Introduza uma variedade de métodos de ensino, como atividades práticas, recursos visuais e colaboração em grupo. Isso mantém o ambiente de aprendizagem estimulante e evita o tédio.
4. Reconheça Conquistas: Celebre as pequenas e grandes conquistas de seus alunos. Isso não apenas reforça a motivação, mas também cria um ambiente positivo de aprendizado. Elogios sinceros e feedback construtivo demonstram que o esforço deles é valorizado.
5. Ensine Estratégias de Gerenciamento de Tempo: A formação de hábitos de estudo eficazes está intimamente ligada ao gerenciamento de tempo. Forneça orientação sobre como criar um cronograma de estudo realista, ensinando os alunos a distribuir o tempo de maneira equilibrada entre as atividades acadêmicas e os momentos de descanso.
6. Estimule a Autodisciplina: A autodisciplina é um pilar dos hábitos de sucesso. Incentive seus alunos a definirem regras pessoais para evitar distrações, como desligar notificações durante o estudo. Ensine-os a priorizar o trabalho antes do lazer.
7. Crie Rituais de Estudo: Introduza rituais de estudo que facilitem a transição para o modo de aprendizado. Isso pode ser um local de estudo dedicado, uma rotina pré-estudo (como alongamentos ou uma breve meditação) ou ouvir uma música de concentração.
8. Explique o Conceito de Neuroplasticidade: Compartilhe com seus alunos a ideia de que seus cérebros podem se adaptar e mudar com o tempo. Explique como a prática repetitiva e a criação de hábitos fortalecem as conexões neurais, tornando o aprendizado mais eficaz e eficiente.
9. Crie Planos de Ação Personalizados: Trabalhe com seus alunos para desenvolver planos de ação personalizados. Isso pode envolver a definição de metas de curto e longo prazo, identificação de etapas específicas para alcançá-las e a criação de rotinas de estudo individualizadas.
10. Fomente a Autoavaliação: Incentive os alunos a refletirem regularmente sobre seu progresso e abordagem de aprendizado. Perguntas como "O que funcionou bem?" e "O que posso melhorar?" ajudam a desenvolver a autorreflexão e o ajuste contínuo de estratégias.
Lembre-se: você não é o único responsável pelo sucesso na jornada do seu aluno! A escola pode auxiliar na execução das tarefas acima, criando projetos de execução em parceria com a coordenação pedagógica, por exemplo. Mas que tal, levar as ideias à frente?





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