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O perigo dos neuromitos na sala de aula


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A festa transcorre bem enquanto crianças correm de um lado para o outro incessantemente. Depois dos “parabéns” todos comem bolo e voltam a correr. Ouve-se alguém comentar: “melhor não dar mais doce para ele senão vai ficar cada vez mais agitado”. Quem nunca ouviu falar disso?

Em outra situação temos um casal de pais preocupado com a educação de seu filho de 4 anos. Está no auge do período crítico, segundo os pais, e a creche-escola não está oferecendo estímulos suficientes.


Quem nunca ouviu ou leu informações similares? Principalmente no mundo atual onde informação prolifera a cada segundo, mas nem sempre acompanhada de real embasamento, as pessoas sentem-se seguras para reproduzir informações científicas.

Entretanto, ciência translacional não é algo simples. Deve ser feito por cientistas, assim como a transposição didática deve ser feita por especialistas ou profissionais da área de pedagogia.

Se entendemos que apenas um professor é capaz de conduzir com maestria a aprendizagem de um aluno, por que seria diferente com as informações científicas?


A apropriação de conhecimento é algo comum, mas deve ser feita de forma ponderada. Quando informação científica é interpretada de forma superficial sem o devido entendimento de suas bases, é comum haver o entendimento errôneo de certos conceitos. Quando tal situação ocorre em neurociências, denominamos tais informações neuromitos.

Por algum motivo os neuromitos são mais comuns na área de educação. O assunto tornou-se tão grave que a OCDE colocou conteúdo sobre o tema em seu site.

Fato é que informações científicas mal interpretadas podem levar a ações igualmente equivocadas.


A propagação de neuromitos não acontece por má fé. Não se trata de espalhar fake news, mas sim, de entendimento equivocado a respeito de dados científicos existentes ou ainda, a simplificação de tais dados.

Acaba sendo fácil simplificar demais dados científicos quando não se possui o embasamento necessário para interpretá-los. Um indivíduo pode ler inúmeros livros de economia, acompanhar sites e informações sobre o mercado financeiro, mas tais ações não o transformam em um economista.


Trazendo para as neurociências, a problematização acerca do assunto torna-se intensa quando dados a respeito do funcionamento do cérebro são traduzidos em estratégias pedagógicas e levados para a sala de aula, muitas vezes, de forma simplificada.


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Por exemplo, um dos neuromitos mais conhecidos é o de que utilizamos apenas 10% da capacidade cerebral. Dessa forma, tudo o que a ciência ainda não consegue explicar sobre o sistema nervoso por meio de dados, atribui-se aos 90% do cérebro não utilizados pela espécie humana. Nesse sentido, acho que a Evolução deu errado! Por que manter um órgão tão dispendioso em termos energéticos funcionando com apenas 10% de sua capacidade?


Tal mito é facilmente deixado de lado e não traz tantas consequências para as escolas. Porém, um mito que é constantemente mal interpretado é a existência de períodos críticos: a ideia de que existem períodos específicos na infância em que a aprendizagem de certas habilidades ocorre de forma mais intensa. Quem nunca ouviu a ideia de que se a criança não aprender uma segunda língua na tenra infância, nunca mais o fará de forma excepcional? O mito é estendido para diversas outras habilidades, que segundo alguns, só se consegue dominar completamente até os 3 anos de idade. Depois disso, já era. Será? Tal informação gera insegurança: será que meu filho está na escola certa? A escola do meu filho oferece estímulos de menos? Será que estamos estimulando nossos filhos da forma correta? Coloca a criança no curso de flauta, de desenho, de mandarim, de dança, de futebol e esgrima. Mas ela tem apenas 3 anos. Diriam alguns...


Outro ponto complexo de abordar é a ideia de aprendizagem em si. Como aprender melhor? Literatura repleta de dicas existe aos montes. Muitas dessas informações estão corretas. O problema é que, em se tratando de educação, qualquer generalização leva ao risco de contemplar apenas parte do espaço amostral. Em outras palavras, é preciso levar em consideração os alunos como individualidades cognitivas.


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Não é possível achar que o entendimento do cérebro deve ser feito do ponto de vista apenas fisiológico no sentido mais estrito da palavra. O cérebro como um órgão apenas, que atua da mesma forma para todos. O cérebro é plástico. Isso significa que as conexões neuronais se modificam dependendo das experiências e estímulos. O tempo inteiro. Não existe fixismo no que diz respeito ao cérebro e seus circuitos e processamentos. Tal dinamismo torna o seu entendimento mais complexo ainda. Portanto, definições generalistas raramente estão 100% corretas ao seu respeito. Tal qual a ideia de que dada pessoa usa mais o hemisfério esquerdo ou direito.


Por tais motivos é preciso ter coerência e profundidade ao buscar informações sobre o tema. Mais ainda para aplicá-los. Como fazer então?

· Busque fontes confiáveis a respeito do assunto: universidades, artigos científicos publicados em linguagem acessível por especialistas.

· Procure livros ou artigos, preferencialmente. Sites com informações equivocadas existem aos montes.

· Experiência não é formação. Uma observação vinda da experiência pode ser verdadeira, mas a fundamentação correta sobre tal fato é necessária para que o mesmo seja propagado com responsabilidade.

· É preciso coerência ao analisar as informações. O cérebro é parte do corpo humano e como tal deve ser entendido em conjunto com outras estruturas que o afetam e são afetadas por ele. Informações simplistas que não levam em consideração tais fatos estão fadadas a equívocos.

· Não existem fórmulas mágicas sobre o ensinar. Mesmo levando em consideração o cérebro. A ciência avança juntamente com a tecnologia. Os dados mudam de tempos em tempos e atualização e leitura constantes sobre o tema são necessários para que exista a real visão do todo, e não somente o entendimento de partes avulsas.


Não desanime! Quanto mais pesquisarmos e buscarmos informações, mais confiantes estaremos para mudar nossas práticas pedagógicas tornando o processo de aprendizagem de nossos alunos mais consolidado e estratégico. As neurociências podem ajudar! 

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